O governo Lula denunciou, nesta sexta-feira, 1º de novembro, o "tom ofensivo" adotado pela Venezuela em relação ao Brasil, em meio à crise provocada pelo veto brasileiro à entrada de Caracas no Brics e os questionamentos sobre a reeleição de Nicolás Maduro.
"O governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais", disse o Itamaraty em um comunicado.
As relações com o país vizinho se deterioraram após a exigência de Brasília de não reconhecer os resultados eleitorais venezuelanos enquanto não forem publicadas as atas da votação de 28 de julho.
A oposição venezuelana reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, e denuncia fraude.
A crise se intensificou com o veto brasileiro ao ingresso da Venezuela ao Brics, decidido na semana passada durante a cúpula do bloco em Kazan, na Rússia.
O governo venezuelano convocou seu embaixador em Brasília para consultas e chamou o encarregado de negócios do Brasil em Caracas.
Antes, Maduro acusou o Itamaraty de "conspirar contra a Venezuela", evitando responsabilizar diretamente Lula pelo veto.
Em sinal de aumento das tensões, a Polícia Nacional da Venezuela (PNB) publicou na quinta-feira, no Instagram, uma imagem com uma silhueta sombria semelhante à de Lula e uma bandeira brasileira com a legenda: "Quem se mete com a Venezuela se dá mal".
A PNB está sob o comando do ministro do Interior, Diosdado Cabello, do setor mais radical do chavismo.
"A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo", afirma a nota da chancelaria brasileira.
"Não vamos entrar no jogo de desqualificações", insistiu à AFP um alto funcionário do Itamaraty, sob anonimato.
As críticas se concentraram no ex-chanceler Celso Amorim, assessor de Lula, a quem o ministério de Relações Exteriores venezuelano chamou de "mensageiro do imperialismo norte-americano", que "se dedicou de maneira impertinente a emitir juízos de valor sobre processos que só dizem respeito aos venezuelanos".
Amorim foi observador nas eleições presidenciais e disse que Maduro lhe prometeu divulgar a contagem detalhada dos votos, mas isso ainda não ocorreu.
Segundo Amorim, a decisão no Brics foi tomada porque "houve uma quebra de confiança" em relação à Venezuela após as eleições no país vizinho.
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